EXCLUSIVO! Conheça mais sobre o perfil dos sócios torcedores do Flamengo

De 2014 pra cá, as arquibancadas do Brasil sofreram mudanças. Além da modernização imposta pelo padrão FIFA para sediar a Copa do Mundo, o perfil de torcedores nos estádios foi diretamente afetado devido ao alto custo operacional de uma arena. Essa transformação pode ser explicada a partir da necessidade da cobrança de ingressos caros para a conta fechar no final e não haver prejuízo.

Quase que simultaneamente à transformação dos estádios em arenas, os clubes brasileiros criaram seus programas de sócio torcedor. Vale destacar que São Paulo e Internacional foram pioneiros ao pensar nesse tipo de programa alguns anos antes. O Colorado, por exemplo, enxergou isso como um grande potencial de receita em 2008, quando todo o público da final da Copa Sulamericana no Beira-Rio foi composto por sócios torcedores.

Em 2013, o Nação Rubro Negra foi criado com o intuito de fazer com que o orçamento do Flamengo aumentasse. Para a gestão Bandeira, essa nova fonte de renda seria capaz de tornar o futebol do clube mais forte, tendo em vista que todo o dinheiro vindo desse programa seria revertido para o departamento de futebol do rubro-negro carioca e investido nele. Bap, vice de marketing na época, afirmou que a ideia era "conseguir recursos através da maior torcida do país para fazer o Flamengo o maior das Américas e um dos maiores do mundo".

Fonte: Mundo Rubro Negro

De fato, a Copa do Brasil de 2013 é, até o momento, o único título de expressão desde que o Nação Rubro Negra surgiu. A cada ano que passa, apesar de haver oscilações ao longo da temporada, o número de associados aumenta. Contudo, em meio a essa caminhada de ascensão, vieram resultados negativos como a eliminação na fase de grupos da Libertadores de 2014 e de 2017 para León e San Lorenzo respectivamente, o vice campeonato da Copa do Brasil e o da Copa Sulamericana, ambos no ano retrasado, além do vice do Brasileirão em 2018. Isso sem contar os acontecimentos extra campo como os portões fechados em duas partidas da fase de grupos de Libertadores de 2018, punição estabelecida pela Conmebol após a invasão de torcedores rubro-negros sem ingresso ao Maracanã no jogo contra o Independiente. Tudo isso já causou uma montanha russa no número de associados. É importante deixar claro que o sócio torcedor pode cancelar sua mensalidade a qualquer momento. Então basta uma fase ruim do clube ou ausência de jogos no Maracanã que a perda de adesões dispara. Para se ter noção, por conta dos dois jogos da Libertadores com portões fechados, o Flamengo perdeu 32.036 associados.

Em 2019, foram feitas grandes contratações, a expectativa é por um ano de títulos e o Maracanã tem ficado cheio quase todos os jogos. Esses são alguns pontos que ajudam a explicar o motivo do programa de sócio torcedor do Flamengo ter crescido em 13% no primeiro trimestre de 2019, alcançando assim a marca dos 105 mil sócios torcedores no mês de abril.

Fonte: Felipe Gavinho

Mas não parou por aí. Alguns dias depois, após a conquista do Campeonato Carioca sobre o Vasco, o Flamengo chegou aos 111 mil associados, recorde desde que o projeto surgiu. Entretanto, devido a algumas apresentações que deixaram a desejar, em especial, na Libertadores, houve um pequeno declínio e o clube conta, atualmente, com 109 mil sócios torcedores de forma arredondada, segundo o site do Nação Rubro Negra .


A partir da modernização dos estádios brasileiros em arenas e da contextualização do programa Nação Rubro Negra, o Gavo na Gávea promoveu uma análise sobre o atual perfil dos sócios torcedores do Flamengo.

O primeiro caso a se analisar é o seguinte:
Ao observar o infográfico acima, pode-se perceber que em um universo de 100 associados do Nação Rubro Negra, 77 são do gênero masculino, 20 não especificaram e 3 são do gênero feminino.

Mesmo que 1/5 do público não tenha dito seu gênero, é notória a predominância de homens no programa. Chega a ser espantoso ver somente 3% dos membros ser mulher. Porém, existem alguns fatores que podem ajudar a explicar essa baixa porcentagem. Infelizmente, o ambiente do futebol ainda é bastante machista e isso pode ter uma influência direta que as impeça de ir aos jogos de uma maneira agradável e prazerosa. Além disso, a violência urbana do Rio de Janeiro certamente também tem uma relação, ainda mais quando os jogos ocorrem à noite. O terceiro motivo é que, pelo Flamengo ter sua rede de descontos mal divulgada, poucas mulheres sabem que o programa oferece benefícios em lojas femininas como Avon e Espaço Laser de depilação.

Já o segundo caso, está ligado ao local em que os sócios torcedores moram:
Esse é um fenômeno interessante para se analisar. Inicialmente, é claro que a maioria dos sócios é do estado do Rio de Janeiro. Isso pode ser facilmente explicado tendo em vista que o programa Nação Rubro Negra tem como principais benefícios a preferência na compra e o desconto no valor do ingresso. Seguindo a lógica de que as partidas ocorrem, em sua grande maioria, no Maracanã, quem mora no Rio está mais apto a frequentar os jogos. Logo, é mais vantajoso para o flamenguista carioca se associar.

Contudo, o Flamengo, apesar de ser um clube carioca, tem torcida espalhada por todos os cantos do Brasil. E isso pode ser mostrado na medida em que 22% de seus sócios torcedores não são do Rio de Janeiro. Mesmo não tendo os principais benefícios a seu favor, os chamados torcedores "off-Rio" pagam a mensalidade simplesmente por amor ao clube e com o intuito de fortalecer o futebol do Flamengo.

Os rubro-negros de outros estados poderiam ser mais estimulados pelo clube. A única vantagem que, aproximadamente, 1/4 desses sócios possuem é um sorteio por jogo para acompanhar o Flamengo no Maracanã, ou seja, é um benefício incerto justamente por ser um sorteio. Chega um momento em que esse acúmulo de mensalidades acaba ficando caro, o sócio vê que nunca ganhou uma promoção e resolve cancelar seu plano, afinal, muitos fazem por amor, mas, com uma condição financeira que não lhe permite continuar ajudando.

O terceiro caso faz relação entre os planos de sócio torcedor a suas adesões:
A partir da análise da tabela, pode-se notar que existem 8 planos distintos. O Raça, com maior porcentagem de associados, é considerado o mais vantajoso. Isso pode ser explicado pois, tirando o Nação Jr que é destinado para crianças entre 0 e 14 anos e o Onde Estiver que visa atender os torcedores residentes fora do Rio de Janeiro, este é o plano mais "barato" que custa R$ 49,90 e dá direito a preferência na hora da compra e desconto nos ingressos.

Os demais planos (+Raça, Amor, +Amor, Paixão e +Paixão) são todos bem parecidos. O que importa para o sócio torcedor escolher dentre essas opções é, além de seu poder aquisitivo, a quantidade de ingressos disponíveis para compra. Existem famílias que vão aos jogos juntas, então, para eles seria interessante o plano +Paixão, por exemplo, que lhe dá direito a 4 ingressos. 

Vale ressaltar que a ordem de prioridade na compra acabou se tornando um detalhe irrelevante. Nenhum setor no Maracanã esgota os ingressos antes de abrir a compra de ingressos para o plano Raça que é o último a ser liberado. Essa é uma característica da torcida do Flamengo. Dessa maneira, todos conseguem escolher em qual parte do estádio querem assistir ao jogo, já que todos os setores ainda estão disponíveis para todos os sócios torcedores.

Abaixo, está mais uma tabela, desta vez mostrando além dos planos, o preço mensal, a ordem de prioridade na compra e a quantidade de ingressos disponíveis para compra de cada plano:


É importante destacar que esses já são os novos preços estabelecidos após o reajuste do sócio torcedor que ocorreu recentemente. O Flamengo é um clube de origem popular. Porém, as mensalidades mostradas acima não são condizentes com a realidade da maioria de sua torcida. É lamentável que, com a modernização dos estádios, não só o rubro-negro carioca, mas o Brasil, de maneira geral, tenha adotado uma política de "segregação da arquibancada". Atualmente, apenas aqueles que têm condição de pagar o programa Nação Rubro Negra são os torcedores que, predominantemente, frequentam o estádio. Muitos ficam de fora do espetáculo por conta dos altos preços dos ingressos.

Sabe-se que é importante ter uma boa renda através dos planos de sócio torcedor. Entretanto, o ideal seria haver um equilíbrio entre os sócios e aqueles que não tem a oportunidade de ser, nem que fosse reservado um pequeno setor do Maracanã a preços populares. O Cruzeiro adotou essa medida no Mineirão para todos os jogos do Campeonato Brasileiro esse ano. E logo na primeira partida, o setor popular com ingressos a R$ 10 obteve uma ocupação de 96,6%. Seria um sucesso garantido e ainda faria a marca do clube ser valorizada com toda a repercussão que ocorreria na imprensa.

Por último, uma análise sobre a idade dos associados rubro-negros:

A faixa etária entre 26 e 40 anos é a com maior porcentagem de sócios torcedores. Esse dado acaba não surpreendendo pelo fato de ser um intervalo de idade em que se está, de fato, no mercado de trabalho. Como consequência disso, possui a capacidade de pagar o plano do programa Nação Rubro Negra.

O público entre 41 e 60 anos tem a mesma ideia. Porém, o diferencial é que os torcedores dessa idade frequentam menos o estádio que os mais jovens. 

Já o público de estudantes, ou seja, entre 15 e 25 anos, existem três motivos para essa baixa porcentagem: as aulas noturnas, a vontade de assistir o jogo em casa com uma segunda tela, no caso dos adolescentes, as redes sociais e a ausência de uma renda fixa em alguns casos.

São poucos os torcedores acima dos 61 anos que frequentam o Maracanã. Nesse recorte, são sócios mais para contribuir, devido ao amor e, possivelmente, ao encantamento pelo clube que, quando eles eram crianças, foi campeão do mundo jogando um futebol de encantar qualquer um. Além disso, existe gratuidade garantida por lei para idosos a partir dos 65 anos no Rio de Janeiro.

E por último, obviamente, estão as crianças. São poucas por conta de também existir gratuidade por lei para jovens até 12 anos no Rio, mas quem é do Nação Jr possui benefícios como: ganhar uma carteira personalizada, um kit especial e poder entrar em campo com os jogadores. Muitos pais gostam de criar um vínculo entre seu filho e seu time de coração desde pequeno. Por isso, existem crianças associadas mesmo possuindo gratuidade.

Fonte: Felipe Gavinho

Luiz Léo, professor de Marketing Esportivo da PUC-Rio, falou sobre o perfil dos sócios torcedores do Flamengo. Ao analisar os dados, ele conclui que o clube tem potencial para atrair mais torcedores ao programa Nação Rubro Negra e deu algumas dicas. 

No caso de apenas 3% dos associados ser do gênero feminino, o especialista recomendou que se ampliasse o leque de benefícios e, eventualmente, o rol de produtos disponíveis. Para ele, quanto maior a variedade, maior a chance de agradar um público tão grande como a torcida do Flamengo. 

Já em relação aos torcedores "off-Rio", o professor da PUC-Rio acredita que pequenos brindes como chaveiros, canecas e até mesmo camisa de jogo usada pelos atletas funcionariam bem. Além disso, crê que o aumento na quantidade de sorteios seria atraente. Os dois exemplos de promoção dados por ele foram: acompanhar os treinamentos e visitas à concentração, ambos no CT do Ninho do Urubu com o intuito dos torcedores também conhecerem a estrutura oferecida aos jogadores, além da viagem ao Rio de Janeiro para ver o jogo do Flamengo no Maracanã que já existe.

Em relação ao Maracanã, ele acredita que com o Flamengo assumindo a gestão do estádio, aumenta a possibilidade do clube criar uma ambientação mais efetiva, além da realização de promoções mais focadas no associado e um modelo de precificação mais eficiente. Essas medidas fazem com que mais torcedores se sintam atraídos e consequentemente se associem ao programa.


Ao ser questionado sobre a elitização do Maracanã, ele respondeu que apesar de ser a favor de um plano de sócio torcedor popular, não acredita na criação por parte da atual diretoria do Flamengo. Segundo o especialista em Marketing Esportivo, a capacidade do estádio é limitada e o volume de associados, se aumentado exponencialmente, implicaria em um rodízio de acesso. O foco do sócio torcedor está em um consumidor de maior potencial econômico. 

Por fim, citou as redes sociais como uma ferramenta fundamental em um ambiente de muita informação e de multiplicidade de ofertas de consumo. Segundo Luiz, as redes constituem canais de distribuição de produtos e serviços combinada a um poderoso instrumento de comunicação (promoção), com capacidade de interlocução direta e individualizada com o consumidor. É um canal eficiente de promoção de vendas e, neste sentido, reúne uma enorme capacidade de atração de associados - através das ofertas de produtos e serviços diversificados, ampliando e diferenciando as categorias de associação já existentes.


Fonte: Felipe Gavinho


Dessa maneira, pode-se concluir que o programa de sócio torcedor do Flamengo poderia ser aprimorado. Após analisar os infográficos e ter a opinião de um especialista na área de Marketing Esportivo, seria fundamental que o clube repensasse alguns pontos sobre o Nação Rubro Negra e realizasse um aperfeiçoamento. Apesar de cobrar altas mensalidades,  por exemplo, poucos benefícios são oferecidos aos associados. O Flamengo, por meio de sua torcida e seu alto engajamento nas redes sociais, tem um potencial gigantesco para alcançar números bem superiores a 109 mil sócios torcedores considerando ser uma Nação de 40 milhões de torcedores. Para isso, basta rever os conceitos que foram estabelecidos lá em 2013 e se readaptar, afinal, já estamos em 2019...

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